terça-feira, 22 de novembro de 2011

A Sociedade de Controle e a Liberdade

Igor Teo | 5 de agosto de 2011

Michel Foucault foi um pensador que influenciou diversas áreas de estudo. Um dos temas que se dedicou a estudar foram as formas de poder e como elas se exercem sobre os indivíduos. Diria ele: “Onde há poder, há resistência”. E o campo da liberdade se faz de atitudes e comportamentos pelo quais os indivíduos recusam as práticas a eles impostas.
O governo e as empresas contam com laboratórios de pesquisas e bancos de informações cada vez mais detalhados sobre a vida particular das pessoas. A população presta conta de seus atos das mais variáveis formas, desde o imposto de renda à documentação necessária para se locomover nas cidades. Ao mesmo tempo o sujeito é submetido às normas e padrões de comportamento condicionados pela sociedade. O indivíduo condicionado é o bom-moço, o mocinho das novelas, regido pela moral capitalista e o modo de vida burguês.

Nas formas modernas do Estado nas sociedades industrializadas são utilizados procedimentos e mecanismo de controle para a constituição de identidades coletivas, sendo oferecidas identidades prontas nos meios de comunicação, como na televisão, para a população “consumir”.
Muito se fala em liberdade no consumismo, mas a cobiçada liberdade do consumidor se resume no direito de escolher por vontade própria um estilo de vida já determinado pelo mercado.
Enfim, parece que o liberalismo se mostrou como a melhor forma de controle da população, pois ao contrário dos regimes totalitários e ditatoriais, concede uma falsa ilusão de liberdade.
Todos obedecem às regras do jogo, cumprem as leis, mudam o horário quando o governo determina sem nem saber ao certo como esse dia é escolhido.

Estratégias de dominação
Um elemento primordial do controle social é desviar a atenção do público dos problemas importantes mediante a liberação excessiva de informações insignificantes. A população passa mais tempo discutindo sobre futebol e vencedores de Reality Show do que economia ou política. O excesso de informação reduz a população à passividade e ao egoísmo, ocultando os fatos um mar de irrelevância.
Ou então se mantém o público ocupado, sem tempo para refletir quanto às questões importantes da sociedade. A população não compreende as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle. A qualidade da educação dada às classes sociais mais baixas é medíocre, tornando a ignorância algo comum.
O indivíduo acredita ainda, dentro do pensamento capitalista, ser o culpado pela sua desgraça, por causa de sua pouca capacidade ou falta de esforços. Ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o indivíduo vira-se contra si mesmo.
E a população, por pior que a situação pareça, acredita que tudo ainda irá melhorar no futuro.
O poder emergente a partir do século XVII tem como objetivo principal controlar a vida social. Para isso existe o projeto de ampliação e integração das aptidões individuais com os sistemas econômicos. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, hoje a ciência tem maior conhecimento do ser humano, tanto fisicamente como psicologicamente. Conseqüentemente, o governo conhece melhor o indivíduo do que ele mesmo conhece a si mesmo.
Um exemplo simples é o teste vocacional, que age a serviço de uma engenharia social, dizendo o que é melhor para cada indivíduo, quando isso deveria ser decidido por ele mesmo.
Os movimentos de contracultura, que por vezes aparecem como uma oposição a cultura dominante, não são em realidade contrários a dominação. A contracultura faz parte da própria cultura, sendo um mecanismo que faz com que ela se atualize, mantendo a ordem estabelecida com pouca alteração real.

Exercício de Liberdade

O homem deve lutar contra as técnicas e procedimentos desenvolvidos para conhecer e controlar a vida subjetiva de cada membro da sociedade. Nesse contexto é que vamos inventar nossa subjetividade.
Apesar das condições desfavoráveis, o indivíduo não está necessariamente desamparado. A atitude questionadora é a principal arma. Através da reflexão, da atitude crítica, podemos analisar o conteúdo de uma determinada proposição, para construirmos o nosso próprio saber, sem aceitar de primeira as formas de saber já prontas, seja científica, religiosa ou ocultista.
Pois nosso campo de batalha não é feito de violência ou terrorismo, mas nas idéias, através da conscientização.
“Um homem pode morrer, lutar, falhar, até mesmo ser esquecido, mas sua idéia pode modificar o mundo mesmo tendo passado 400 anos.” In: V for Vendetta
Igor Teo é estudante de psicologia e colunista no Teoria da Conspiração.

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